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Carvalho, Cunha, Giugliani, Bakos & Ashton-Prolla
An bras Dermatol, Rio de Janeiro, 79(1):53-60, jan./fev. 2004.
INTRODUÇÃO
O melanoma - neoplasia maligna originada a partir
dos melanócitos, células responsáveis pela pigmentação
cutânea - é a primeira causa de morte por doenças da pele,
representando cerca de 1% de todos os tumores malignos.
Associado a elevada morbimortalidade, sua incidência tem
aumentado dramaticamente nas últimas quatro décadas em
diversos países industrializados.1Nos EUA, 44.200 novos
casos foram registrados em 1999, resultando em 7.300 mor-
tes;2para 2002, projetam-se 53.000 novos casos.3Entre 1973
e 1998, a incidência e a mortalidade por melanoma neste
país aumentaram continuamente, em taxas superiores àque-
las da maioria das outras neoplasias passíveis de prevenção.4
No Brasil, estima-se que cerca de 4.000 novos casos5sejam
diagnosticados a cada ano, o que provavelmente é um sub-
registro dos números reais.5,6 A idade média ao diagnóstico
de melanoma na população geral é de 57 anos para os
homens e 50 anos para as mulheres.7Em indivíduos de alto
risco para melanoma hereditário, por outro lado, essa média
de idade ao diagnóstico antecipa-se para 36 anos em homens
e 29 anos em mulheres.8Além da idade mais precoce ao
diagnóstico, os pacientes com melanoma familiar têm maior
incidência de múltiplos melanomas primários.
Para essa manifestação são conhecidos diversos fato-
res de risco, que se relacionam basicamente com característi-
cas cutâneas e pigmentares, como presença de numerosos
nevos, nevos atípicos, sardas, cabelos ruivos, incapacidade de
bronzeamento e propensão a queimaduras.9,10 Ao longo de
muitos anos, diversos estudos epidemiológicos têm apontado
a exposição solar, particularmente durante a infância, como a
principal causa ambiental de melanoma.11 Estima-se que até
65% dos casos de melanoma possam estar relacionados à
exposição solar.12 Em um estudo de caso controle realizado
com pacientes do sul do Brasil, Bakos et al.13 encontraram
risco relativo para melanoma de 2,7 (IC 95% 1,3 - 5,6) em
pacientes com fototipos I e II quando comparados a pacientes
com fototipos III e IV. O mesmo estudo mostrou que a cor dos
olhos e a cor dos cabelos não se estabeleceram como fatores
de risco independentes para melanoma. Adicionalmente, foi
demonstrado que o número de nevos (>30) e a presença de
nevos displásicos constituem um fator de risco moderado. Por
fim, o fator de risco mais importante naquele trabalho foi a
história de numerosos (30 ou mais) episódios de queimadura
solar ao longo de toda a vida.
Análises genéticas formais realizadas na década de
1980 identificaram um padrão de herança autossômico
dominante em algumas famílias com múltiplos casos de
melanoma. Atualmente, acredita-se que a maioria dos casos
dessa neoplasia resulte da interação de fatores de risco
genéticos e ambientais, constituindo um modelo de doença
multifatorial.1Um exemplo dessa interação é demonstrado
pela influência da variação geográfica na penetrância de
mutações no gene CDKN2A, ou seja, a penetrância aumen-
ta de acordo com o grau de exposição solar a que a popula-
ção é submetida, inferido pela latitude.14
INTRODUCTION
Melanoma - a malignant neoplasia originating in
the melanocytes, the cells responsible for cutaneous pig-
mentation - is the primary cause of death among skin dis-
eases, and represents about 1% of all malignant tumors.
Associated with a high morbidity and mortality rate, its
incidence has been increasing dramatically in the last four
decades in various industrialized countries.1In the USA,
44,200 new cases were reported in 1999, resulting in 7,300
deaths.2In 2002, 53,000 new cases are expected.3Between
1973 and 1998, the incidence and the mortality due to
melanoma in that country increased continually, at rates
superior to those of most of the other preventable neo-
plasias.4In Brazil, it is estimated that about 4,000 new
cases5are diagnosed every year, which is probably an
underestimation of the real numbers.5,6 The average age at
the diagnosis of melanoma in the general population is 57
years for men and 50 years for women.7In individuals at
high risk for hereditary melanoma, on the other hand, the
average age at diagnosis is earlier reaching 36 years in
men and 29 years in women.8Besides the much earlier age
at the time of diagnosis, patients with familial melanoma
have a greater incidence of multiple primary melanomas.
In this manifestation several risk factors are known
that are related basically with cutaneous and pigmental
characteristics, such as presence of numerous nevi, atypical
nevi, freckles, red hair, incapacity to tan and a propensity to
sunburns.9,10 Over many years, several epidemiological stu-
dies have shown that solar exposure, particularly during
childhood, is the main environmental cause of melanoma.11
It has been estimated that up to 65% of the cases of
melanoma may be related to solar exposure.12 In a case-con-
trolled study accomplished with patients in the south of
Brazil, Bakos et al.13 found that the relative risk for
melanoma was 2.7 (CI 95% 1.3 - 5.6) in patients with pho-
totypes I and II when compared to patients with phototypes
III and IV. The same study showed that the color of the eyes
and the color of the hair did not represent independent risk
factors for melanoma. Additionally, it was demonstrated that
the number of nevi (>30) and the presence of dysplastic nevi
constitute a factor of moderate risk. Finally, the most impor-
tant risk factor reported in that work was a history of nume-
rous (30 or more) episodes of solar burn during a lifetime.
Formal genetic analyses accomplished in the decade
of the 1980s identified a pattern of autosomal dominant
inheritance in some families with multiple cases of
melanoma. Nowadays, it is believed that most of the cases
of this neoplasia result from the interaction of genetic and
environmental risk factors, constituting a model of a multi-
factorial disease.1An example of that interaction is demon-
strated by the influence of geographical variation on the
penetrance of mutations in the CDKN2A gene, in other
words, the penetrance increases in proportion to the degree
of solar exposure to which the population is submitted, as
inferred by the latitude.14