Descartes - Repositório Aberto da Universidade do Porto

Descartes
reflexão sobre
a
modernidade
ACTAS DO COLOQUIO INTERNACIONAL
(Porto,
111.20
de
Norembm
de
1996)
FUNDAÇ~O ENG. ANTÓNIO DE AiMEIDA
J.
F.
MEIRIKHOS
Universidade do Porto
DESCARTES.
UMA
ORIENTAÇÃO BIBLIOGRÁPICA
'
O
pensamento de Descartes tem sido, em especial neste século, um
incontomável campo de debate e controvérsia em tomo dos problemas filosó-
ficos tradicionais e mesmo em tomo daqueles que, em tempos recentes, pare-
cem emergir como novos.
A
fenomenologia busserliana, o existencialismo, as
teorias do método e da ciência, as filosofias do conhecimento, da consciência
e da inteligência artificial, servem como exemplos contemporâneos do recurso
ao fecundo manancial filosófico legado por Descartes. Note-se até que
Descartes, esse filósofo que
c'esst
Ia
France
e, por extensão, exemplo sumá-
rio dos temas e do modo continental de fazer filosofia,
é,
pelo menos desde
quatro décadas, objecto de crescente interesse no âmbito das filosofias
anglo-saxónicas.
De um ângulo mais historicista, isto
é,
tomando a obra de Descartes no
seu tempo mesmo, verifica-se com facilidade que as sucessivas interpretaçaes
de que tem sido objecto vão a par com a renovação hermenêutica da histo-
riografia da filosofia, nos anos mais recentes. No refluxo das grandiosas inter-
pretações sistemáticas dos anos
50
e
60,
têm sido as micro-leituras textuais a
transformar a obra de Descartes numa oportunidade para
o
pensar,
uma vez
abandonados os projectos de talhe hegelianizante orientados para a busca da
ideal unidade de orientação que pretensamente lhe subjaz. Essas leituras poli-
facéticas de Descartes articulam-se preferencialmente em tomo de problemas
filosóficos, primeiro isolados na sua singularidade de vincos e detalhes, mas
'
Em paralelo com o Colóquio Descartes, rej7exão sobre
a
modernidade, foi organi-
zada uma mostra do fundo bibliográfico cartesiano da Biblioteca Cenml da Faculdade de
Lelras da Universidade do Porto. A informação que então coligi no pequeno catálogo está
na origem desta bibliografia, muito ampliada e reorganizada. Agradeço
a
colaboração da
Dr.' Isabel Pereira Leite e da
Dr.'
Isabel Ortigão, na disponibilização dos registos catalo-
gráficos do fundo cartesiano da Biblioteca da Faculdade. Agradeço também
à
Dr? Sofia
Miguens os comentários a uma primeira versão deste contributo.
in:
&,cirirr,
req7cxW
sobre
n
mdrritidndr.
ilçm
do
Coldqi~io iiiiir~~lcio~ioi (ibrm, 18-20
<I<.
Noi<sihra,
1996).
Maria Jose
Cuilirtr-JmC frrnrirco Mcirinlior (cwid). Ediclo
da
fundaao Eng. Antõnio
da
Alrneid~
Pano.
1998:
pp.
485-504.
depois abordados a partir das tensões internas da escrita e do pensamento, da
arqueologia das continuas transformações na sua formulação, da paradoxal dis-
secação do ainda não dito, da genealogia dos conceitos, da historicidade da
obra, das hesitações doutrinais e disciplinares, da tensão com o tempo prece-
dente e com a sua posteridade, no quadro das divergentes tradições filosófi-
cas que contribuiu para instaurar. Estão ai outros tantos elementos de uma her-
menêutica cartesianista em gestação. A multiplicação de obras colectivas e de
números monográficos de importantes revistas (cfr. infra II1.B) pode ser
tomado como sintoma desta orientação de leituras multi-polares e não apenas
como exemplo dos moldes actuais do trabalho académico.
As perspectivas de leitura sobre a figura filosófica de Descartes multi-
plicaram-se e os juizos sobre a sua importância e a qualidade da sua iufluên-
cia continuam a ser divergentes, embora a diatribe anti-cartesiana esteja hoje
praticamente esgotada (excepto quando se pretende um título de impacto
mediático). As múltiplas traduções das obras e a vertiginosa proliferação de
estudos, de grande ou pequena dimensão, são um bom testemunho da actua-
lidade (quase se poderá dizer da popularidade) do filósofo seiscentista. Come-
çam agora a ser editadas as Actas dos inúmeros congressos e colóquios rea-
lizados um pouco por todo o mundo durante 1996, na oportunidade do quarto
centenário do nascimento de Descartes. Será preciso ainda algum tempo para
se perceber o que esta massiva onda comemorativa trouxe de novo aos estu-
dos cartesianos (para um primeiro balanço veja-se o
Bullerin cartésien
de
1997, cfr. infra II.A.), mas contribuiu desde para agravar a crónica desac-
tualização de todas as orientações bibliográficas.
Pareceu útil oferecer no final deste volume de Actas uma reduzida biblio-
grafia cartesiana, concebida como ponto da situação e instrumento de traba-
lho, onde fossem dados elementos orientadores sobre as edições de referência,
sobre os instrumentos de pesquisa disponiveis e sobre os mais significativos
estudos interpretativos. Ao introduzir estes critérios de ordenação, pretende-se
desde logo ilustar a genuína presença da discussão filosófica nos estudos car-
tesianos e, também, contrariar aquela difusa e infundada sensação de caótica
repetição que um sobrevoo desatento de uma miríade de publicações pode
infundir.
Assim, este guia orientador, procura ser o mais completo possivel no que
diz respeito às edições, completas ou usuais, das obra de Descartes bem como
as mais recentes edições criticas que, até agora, apenas abrangem algumas das
obras ditas menores
($
1.A-B). Note-se que continua a faltar uma edição crí-
tica, com rigor filológico, do
corpzis
cartesiano completo. Pelo seu interesse,
algumas edições manuais com carácter divulgativo também justificam a sua
inclusão numa bibliografia breve. Os instrumentos de pesquisas
($
1.C e
ILA-C), apesar de constituírem um gmpo estranhamente pouco diversificado
DESCARTES. UMA ORIENTAÇÃO
BIBLIOGRAFICA
487
e pobre, se comparado com o que
é
oferecido para os autores medievais,
começam também a acompanhar as novas tecnologias, quer através das edi-
ções electrónicas, quer através da disponibilização na Intemet de textos e de
bibliografias. Para não alongar desmesuradamente esta orientação bibliográfica,
não se incluem estudos publicados em revistas, nem se mencionam histórias
da filosofia, dicionários de filosofia, ou enciclopédias, mas são referidos os
números de revistas especialmente dedicados a Descartes.
Em Portugal o pensamento de Descartes suscita continuado interesse,
desde sempre, mas com um entusiasmo que tem variado ao longo do tempo.
A construção de um panorama mais exacto desta presença poderá ser traçado
a partir das traduções da sua obra, das quais se uma listagem tão exaus-
tiva quanto possível (cf. secção 1.D). Também não abundam, por cá, os livros
sobre o seu pensamento e, na bibliografia que se segue, quando existam tra-
duçoes, vão sempre referidas a edição original. As poucas entradas elencadas
evidenciam a pobreza da bibliografia cartesiana em português europeu (repe-
tindo-se a ressalva de aqui não se incluirem estudos publicados em revistas
ou em obras colectivas), que contrasta com a sua real influência.
O
panorama
de tradução de obras
é
francamente restrito e repetitivo. Parece claro que as
investigaçaes académicas partem do contacto directo com as obras e os estu-
dos, negligenciando as traduções, mas também não contribuem de modo defi-
nitivo para o acesso ao texto cartesiano em traduções de maior rigor filosó-
fico. Do
corptrs
cartesiano apenas cinco titulos estão traduzidos em português
europeu:
As paixões da alnta, Disczirso do método, Meditações sobre a filo-
sofia primeira, Princípios da Filosofia, Regras para a direcção do espírito,
devendo notar-se que do
Discurso do método
podem encontrar-se nada menos
que nove traduções diferentes, sete das quais realizadas nos últimos vinte anos
(cf. secção 1.D). Mas, desses cinco titulos, dois estão incompletos, pois nunca
foi traduzido qualquer dos
Essais
que acompanham o
Disco~irs,
nem nenhuma
das
Objecções
e
Respostas
as
Meditationes.
Cinco traduções dos
Principia
abrangem apenas o livro l e apenas a sexta (curiosamente publicada após o
"ano cartesiano") abrange a totalidade da obra. A insistência no
Discurso do
método
(9 traduções) explica-se por este texto ser, até 1994, uma das obras
de leitura obrigatória da disciplina, então obrigatória, de Filosofia no 1
1."
ano
de escolaridade. A inclusão da parte
I
dos
Princípios de Filosofia,
como obra
de opção no programa de Filosofia do 12." ano (uma disciplina que também
passou a ser de opção), generalizado a todo o pais em 1995, explica a actual
proliferação de traduções desta obra.
488
J.
F.
MEIRINHOS
O melhor instrumento de actualização bibliográfica anual sobre Descar-
tes, apesar da sua selectividade,
é
o «Bulletin cartésien)) (ver infra na secção
II.A), o qual, para além de curtos ensaios de análise temático-bibliográfica,
oferece listagens de títulos, alguns dos quais acompanhados de leituras críti-
cas.
O
«Bulletin», tem também secções dedicadas ao cartesianismo.
Referências as traduções de obras e aos estudos sobre Descartes publi-
cados em Portugal até 1987, revistas, artigos e teses de licenciatura incluídos.
encontram-se em Maria L.S. GANHO e Mendo C. HENRIQUES,
Bibliografiafilo-
sofica porfziguesa
(1932-1987)
Ed. Verbo, Lisboa 1988. Sobre a influência de
Descartes em Portugal nos séc. XVII-XVIII, ver Amândio Coxiro: «Cai.te-
sianismo em Portugal)), in
Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosojia,
vol. 1, col. 849-857, Ed. Verbo, Lisboa 1989.
Para comodidade de consulta as referências bibliográficas vão agrupadas
por temas:
I.
Obras
A. Edições integrais ou de referência
B.
Ediçóes parciais. Comentários
C. Edições electrónicas
D. Traduções portuguesas
11. Instrumentos de pesquisa
A. Bibliografias
B.
Léxicos e Concordâncias
C. Dicionários cartesianos
111. Estudos
A. Biografias
B. Obras colectivas e Actas. Publicações periódicas
C.
Estudos criticos. Monografias.
D. Descartes depois de Descartes
A.
Obras completas ou edições de referência
-
Oeavres de Descartes,
publiées par Charles ADAM
&
Paul TANNERY, Ed.
du Cerf, Paris 1897-1909. Nova edição, aumentada, revista e actualizada
sob a direcção de
P.
COSTABEL e a
COI.
de Bernard Roc~or, co-publicada
por CNRS
-
Librairie Philosophique
J.
Vrin, Paris 1964-1974: XI tomos,
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