depois abordados a partir das tensões internas da escrita e do pensamento, da
arqueologia das continuas transformações na sua formulação, da paradoxal dis-
secação do ainda não dito, da genealogia dos conceitos, da historicidade da
obra, das hesitações doutrinais e disciplinares, da tensão com o tempo prece-
dente e com a sua posteridade, no quadro das divergentes tradições filosófi-
cas que contribuiu para instaurar. Estão ai outros tantos elementos de uma her-
menêutica cartesianista em gestação. A multiplicação de obras colectivas e de
números monográficos de importantes revistas (cfr. infra II1.B) pode ser
tomado como sintoma desta orientação de leituras multi-polares e não apenas
como exemplo dos moldes actuais do trabalho académico.
As perspectivas de leitura sobre a figura filosófica de Descartes multi-
plicaram-se e os juizos sobre a sua importância e a qualidade da sua iufluên-
cia continuam a ser divergentes, embora a diatribe anti-cartesiana esteja hoje
praticamente esgotada (excepto quando se pretende um título de impacto
mediático). As múltiplas traduções das obras e a vertiginosa proliferação de
estudos, de grande ou pequena dimensão, são um bom testemunho da actua-
lidade (quase se poderá dizer da popularidade) do filósofo seiscentista. Come-
çam agora a ser editadas as Actas dos inúmeros congressos e colóquios rea-
lizados um pouco por todo o mundo durante 1996, na oportunidade do quarto
centenário do nascimento de Descartes. Será preciso ainda algum tempo para
se perceber o que esta massiva onda comemorativa trouxe de novo aos estu-
dos cartesianos (para um primeiro balanço veja-se já o
Bullerin cartésien
de
1997, cfr. infra II.A.), mas contribuiu desde já para agravar a crónica desac-
tualização de todas as orientações bibliográficas.
Pareceu útil oferecer no final deste volume de Actas uma reduzida biblio-
grafia cartesiana, concebida como ponto da situação e instrumento de traba-
lho, onde fossem dados elementos orientadores sobre as edições de referência,
sobre os instrumentos de pesquisa disponiveis e sobre os mais significativos
estudos interpretativos. Ao introduzir estes critérios de ordenação, pretende-se
desde logo ilustar a genuína presença da discussão filosófica nos estudos car-
tesianos e, também, contrariar aquela difusa e infundada sensação de caótica
repetição que um sobrevoo desatento de uma miríade de publicações pode
infundir.
Assim, este guia orientador, procura ser o mais completo possivel no que
diz respeito às edições, completas ou usuais, das obra de Descartes bem como
as mais recentes edições criticas que, até agora, apenas abrangem algumas das
obras ditas menores
($
1.A-B). Note-se que continua a faltar uma edição crí-
tica, com rigor filológico, do
corpzis
cartesiano completo. Pelo seu interesse,
algumas edições manuais com carácter divulgativo também justificam a sua
inclusão numa bibliografia breve. Os instrumentos de pesquisas
($
1.C e
ILA-C), apesar de constituírem um gmpo estranhamente pouco diversificado