De acordo com BRITO (1986), três variáveis determinam a
omissão de um complemento verbal:
1) a presença de um adjunto adverbial no enunciado;
2) o uso de um tempo verbal, como o presente ou o pretérito
imperfeito do indicativo, que denote hábito, repetição;
3) a existência, na frase, de alguma informação que permita
recuperar o conteúdo do complemento omitido.
Tais critérios revelam-se, no entanto, insuficientes para o
tratamento deste complexo fenômeno lingüístico, não somente por
que deixam de lado o nível de análise que suponho mais importante
para o estudo - o pragmático já que se trata de um fenômeno
eminentemente discursivo, como também porque desconsideram
relações semânticas cruciais para a investigação de qualquer fato
sintático, como as de transitividade e as de predicado-argumento.
Neste artigo, tomo por objetivo, exatamente, indicar, com a
evidência de cálculos percentuais e probabilísticos, que fatores, são
determinantes da omissão. Para tanto, oito variáveis foram cruza
das com três formas de manifestação dos complementos verbais:
sintagmas nominais plenos, pronomes e omissões, a fim de avaliar
o peso de influência de cada um dos fatores na omissibilidade. A
partir daí, são discutidos os critérios que comumente orientam a
classificação de complementos como obrigatórios ou facultativos.
Os dados analisados na pesquisa constam de 1669 ocorrênci
as de complemento verbal, extraídas de dezenove inquéritos do Pro
jeto PORCUFORT (Português Oral Culto de Fortaleza), o qual segue
as normas estabelecidas pelo Projeto NURC/BR. Após codificados,
os dados foram submetidos a cálculos de freqüência e de probabili
dade, processados pelo pacote de programas VARNEWS (cf. SCHERRE,
1993; ver também PINTZUK, 1988), que, embora tenha sido ideali
zado para pesquisas variacionistas, mostrou-se perfeitamente ade
quado ao tratamento estatístico necessário a esta investigação.
172 CAVALCANTE, Mônica Magalhães. A omissão de complementos verbais. Lín
gua e Literatura, n° 23, p. 171-215, 1997.