Mário Falcão 100 EXERCÍCIOS DE ESCRITA CRIATIVA Volume 1 – iniciantes São Paulo 2017 EDITORA STIEG Este é um manual de exercícios para quem gosta de escrever e quer melhorar a qualidade do texto com foco na ficção. Funciona como uma oficina literária. O “volume 1” é a versão para iniciantes, um ponto de partida para quem quer melhorar o nível de redação, contar histórias, escrever textos para blogues e, talvez, um dia se tornar um profissional da escrita. Os exercícios servem para desbloquear e soltar a imaginação, melhorar a percepção sobre o que é descrito ou narrado, explorar a criatividade, criar diálogos e experimentar a escrita literária. Para chegar a um bom nível de qualidade é preciso ler e escrever com frequência. A prática constante e a técnica desenvolvem e aprimoram o talento. O ideal é ter disciplina para trabalhar seu texto todos os dias, tal como um atleta que se prepara para disputar uma competição. A sugestão é que você termine este livro em 100 dias. Um exercício de redação por dia. Mostre seus textos para familiares, amigos e professores. Eles serão os seus primeiros leitores e poderão contribuir para o seu desenvolvimento. Escrever bem pode parecer um mistério, mas é igual a tudo o que a gente aprende na vida. À medida que avançamos, adquirimos conhecimento, domínio e chegamos a resultados que costumam ser recompensadores. Os exercícios de escrita e os textos deste manual também ajudam quem quer se tornar um leitor mais capaz de entender e apreciar as obras da literatura do Brasil e do mundo. Espero e desejo que você suba de nível e tenha muito mais satisfação e prazer com a escrita criativa e com a leitura. O Autor SUMÁRIO EXERCÍCIOS, 4 FRASES DE ABERTURA, 12 UM ENREDO EM 3 ATOS, 23 3 OPÇÕES DE NARRADOR, 33 TÓPICOS PARA CRIAR UM PERSONAGEM, 44 12 PASSOS PARA ILUMINAR O SEU TEXTO, 52 2 SAÍDAS PARA O FIM DA HISTÓRIA, 60 O QUE LER? 71 BIBLIOGRAFIA, 72 EXERCÍCIOS 1. O que torna um pôr do sol perfeito? Faça uma lista. 2. Faça uma lista de frases sobre o que aconteceu no seu melhor Carnaval. 3. Escreva um texto a partir da frase: “Eu não entendo este cachorro. Ele é totalmente pirado.” 4. Escreva um texto a partir da frase: “É hoje. Meu coração já começa a bater mais forte.” 5. Escreva um texto a partir da frase: “Eu estava quase dormindo quando ouvi um barulho na cozinha.” “Quando escrevo, não penso na literatura: penso em capturar coisas vivas.” João Guimarães Rosa 6. Faça uma lista com frases ditas do começo ao fim de um namoro. A sequência vai do flerte até a despedida. 7. Descreva uma maçã usando apenas a visão. 8. Feche os olhos e descreva um abajur usando apenas o tato. 9. Descreva os cheiros da cozinha de um restaurante. 10. Você está no centro da cidade, à noite. Descreva os sons do lugar. “As pessoas conversam mais do que fazem. Não sou escritor de botequim e, em literatura, ou se é disciplinado ou pouco se cria.” Luiz Ruffato 11. Você experimenta um frango assado pela primeira vez. Descreva o sabor e as texturas. 12. Conte como foi a viagem mais interessante e inesquecível que você já fez. 13. Escreva uma carta para ser aberta daqui a 100 anos contando o que a nossa geração fez com o planeta. “Assim como alguns jovens passam de quatro a cinco horas por dia estudando piano ou violino, eu vivia entre meus papéis e minhas canetas.” Truman Capote FRASE DE ABERTURA A primeira frase de um conto ou de um romance é fundamental. Ela tem a função de conquistar o leitor e colocá-lo dentro da narrativa. Moby Dick, um clássico escrito por Herman Melville, começa com uma simplicidade irresistível: “Me chame de Ismael.” A frase estabelece uma ligação imediata com quem está lendo e o convida a seguir em frente. Veja outras 12 frases de abertura escritas por mestres do texto: “Quando eu era capelão de S. Francisco de Paula (contava um padre velho) aconteceu-me uma aventura extraordinária.” Conto Entre santos, de Machado de Assis “Ela dispunha de duas horas para ocultar os segredos de sua vida.” Romance Exclusiva, de Annalena McAfee “Era um verão estranho, sufocante, o verão em que eletrocutaram os Rosemberg, e eu não sabia o que estava fazendo em Nova York.” Romance A redoma de vidro, Sylvia Plath “Da primeira vez em que pus os olhos em Terry Lennox ele estava bêbado, num Rolls-Royce Silver Wraith, em frente ao terraço do The Dancers.” Romance policial O longo adeus, de Raymond Chandler “A tristeza, a compreensão e a desigualdade de nível mental do meu meio familiar agiram sobre mim de modo curioso: deram-me anseios de inteligência.” Romance Recordações do escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto “Às cinco daquela tarde de inverno tinha hora marcada com o dr. Bentsen, outrora seu psicanalista e agora seu amante.” Conto Mojave, de Truman Capote “Tem gente que só se dá mal. Como é que eu posso explicar?” Conto Orgulho, de Alice Munro “Ainda que viva cem, mil anos, não esquecerei aquele dia em que, deitado no leito miserável da cela B 17, a porta se abriu e dois soldados empurraram um corpo que logo se estatelou no chão de ladrilhos.” Novela Romance sem palavras, de Carlos Heitor Cony “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.” Romance Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez “Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso.” A Metamorfose, de Franz Kafka Muitos escritores escrevem o conto ou o capítulo todo e depois voltam para reescrever a frase de abertura, e trabalham bastante até que ela fique perfeita. 14. Escreva um texto criticando duramente o atual governo. 15. Agora, escreva um texto defendendo com firmeza esse mesmo governo. 16. Você já foi vítima de bullying? O que aconteceu? Como você superou isso? 17. Você virou um morador de rua. E agora? 18. O seu personagem está numa ilha deserta. Ele acredita que não vai sobreviver e decide escrever uma carta de despedida. Escreva a carta. “O que se escreve é reflexo de tudo: do que você está lendo, fazendo, assistindo na televisão, dos seus amigos, das suas experiências recentes, viagens, tudo.” Vanessa Barbara 19. Você já se meteu em alguma confusão quando era criança? O que aconteceu? 20. Cada povo tem o governo que merece? Escreva usando as técnicas de dissertação que você conhece. 21. Por que algumas pessoas fazem sucesso e outras se dão mal? 22. Cria a letra de uma música. 23. Escreva uma história que termine com a frase: “Assim caminha a humanidade”. “Faço anotações o tempo inteiro. Quem não anda com seu bloco no bolso? Anoto frases ouvidas e lidas. Ideias que me surgem de repente no cinema, na rua, no bar, na cama.” Ignácio de Loyola Brandão 24. Você está num reality show e tem que convencer o público que não deve ser eliminado. O que você diz? 25. Escreva uma carta de amigo-para-amigo ao presidente Donald Trump. 26. Escreva uma carta com um pedido de emprego. 27. Você foi eleito o prefeito de sua cidade. Descreva o seu primeiro dia de trabalho. 28. O narrador compra um casaco antigo numa loja de roupas usadas. No bolso há uma carta de amor. Quem escreveu a carta? Para quem? Transcreva a carta. “O mais importante: fica alerta o quanto puderes, cuida, sua, reescreve pela quinta vez, corta etc.” Anton Tchékhov UM ENREDO EM 3 ATOS O texto de um romance ou de uma novela, em geral, tem começo, meio e fim. Poderíamos desdobrar a estrutura em três atos: 1) introdução e desafio; 2) peripécias e conflitos; 3) clímax e encerramento. Veja um exemplo de trama para uma novela policial: 1. Introdução: abertura na cena do crime. Um corpo é encontrado na biblioteca, mas não sabemos quem é o criminoso nem onde foi parar a arma. Nós temos aí algo que quebra a rotina e precisa de uma solução. É um desafio, o problema a ser resolvido. O detetive entra em cena. Os personagens principais também; 2. Peripécias e conflitos. O detetive encarregado em desvendar o caso será o nosso herói, o protagonista. Ele vai seguir pistas, investigar suspeitos e montar o quebra-cabeças que vai levar à captura do verdadeiro criminoso. O vilão é o antagonista, e faz de tudo para não ser pego. Nesse caminho há conflitos, pistas falsas, reviravoltas, tiros, dramas e aventuras; 3. Chega o momento do clímax, a grande cena em que tudo pode acontecer. O detetive sabe quem é o assassino e se lança ao desafio de prendê-lo. É a batalha final. Felizmente, no mundo da ficção, o autor pode fazer com que tudo dê certo e o mocinho prenda o bandido; No encerramento, ficamos sabendo mais detalhes sobre o motivo do crime e as circunstâncias em que tudo aconteceu. O culpado vai para a cadeia ou foge. O detetive tem seu trabalho reconhecido e se houver uma mocinha nessa história, eles podem ficar juntos. Esse é um modelo que funciona, mas as possibilidades narrativas são infinitas. Cada autor escolhe como quer criar a sua história, onde, em que época, e se ela vai ter um herói ou não. Um roteiro prévio com começo, pontos de virada, clímax e desfecho, ajuda muito a tornar a história consistente. Alguns autores planejam cada etapa do romance e já sabem, antes mesmo de começar a escrever, o que vai acontecer em cada capítulo e como a história termina. Quem sabe aonde quer chegar tem um percurso mais confortável do que àqueles que partem no escuro, sem saber o que vai acontecer. Mais uma sugestão: horário e disciplina para escrever. Dessa forma, você mantém a história viva na sua cabeça e termina o livro. Eu escrevo todos os dias, assim que acordo, durante duas horas e meia. Só depois vou cuidar das minhas outras atividades e compromissos. As ideias que pipocam durante o dia, anoto num Moleskine. 29. Feche os olhos e imagine você mesmo daqui a 10 anos. Conte como é a sua vida lá. 30. Qual foi o maior susto da sua vida? Como a história terminou? 31. Você encontra 10 mil dólares numa sacola esquecida no banheiro de um shopping. O que você faz? Como a história termina? 32. Escreva uma notícia para o jornal da sua cidade. O título é: “Chupacabras ataca de novo”. 33. Comente a frase de Peter Ducker: “A melhor maneira de prever o futuro é construi-lo.” 34. Comente a frase de John F. Kennedy: “A melhor estrada para o progresso é a estrada da liberdade.” 35. Crie um diálogo entre dois aposentados sentados num banco de praça. Inclua na conversa a frase de Machado de Assis: “Mas o que é a vida senão uma combinação de astros e poços, enlevos e precipícios?” “Sempre me detenho numa frase até concluir que me falta disposição ou capacidade de melhorá-la, e, ato contínuo, passo para a seguinte, e depois para a outra.” Gay Talese 36. Conte uma história que contenha as seguintes palavras: cabana, frio, faca e lobo. 37. Conte um caso de amor que termina bem. 38. Agora, conte o mesmo caso de amor, mas nesta nova versão ele termina mal. 39. Durante a noite, os bonecos de um parque de diversões ganham vida. Escreva o diálogo entre eles. “Flaubert tinha uma teoria sobre estilo: a do ‘mot juste’. A palavra certa era aquela – única – capaz de expressar cabalmente uma ideia. A obrigação do escritor era encontrá-la. Como saber que a encontrara? Seu ouvido lhe dizia: a palavra era certa quando soava bem.” Mario Vargas Llosa 40. Escreva a partir da seguinte introdução: “Era uma noite chuvosa de sextafeira. Um vulto sinistro pulou o muro e escapou do manicômio. Era um homem. Ele caminhou em direção à... (continue) 41. Você entra na máquina do tempo e vai parar em 2118. Como é a vida no futuro? 3 OPÇÕES DE NARRADOR O escritor/autor é uma pessoa real. O narrador da história pode ser alguém inventado. Explico: eu posso narrar como se fosse um velho contando suas memórias ou um menino em seu primeiro dia de aula ou como se fosse uma mulher descrevendo sua experiência no mundo dos negócios, entre inúmeras outras possibilidades. Há um ponto de vista a ser definido. 1) O narrador pode contar uma história que aconteceu com ele próprio. Ele é um personagem. Nesse caso, o texto será escrito em primeira pessoa (“Eu estava no prédio e ouvi a explosão”). 2) O narrador pode ser alguém que conhece a história. Ele conta, o que viu e ouviu, em terceira pessoa (“Fulano estava no prédio e disse que ouviu a explosão”). 3) O narrador pode ser alguém que conhece a história toda e sabe de tudo, está em todos os lugares, lê todas as mentes, enfim, é um “deus”. É o narrador onisciente. O texto é escrito em terceira pessoa (“Fulano estava no prédio e ouviu a explosão. Ele teve medo, pensou em correr, mas decidiu ficar e ajudar as vítimas”). O autor também pode adotar o estilo livre e narrar uma parte da história em primeira pessoa e outra parte em terceira pessoa. É o que faz o autor de novelas policiais Harlan Coben no livro “Não conte a ninguém”. O personagem principal, o doutor David Beck, narra sua própria história. Nas cenas em que ele não aparece quem assume é o narrador onisciente. NARRADOR NEUTRO X NARRADOR PARTICIPANTE O narrador pode apenas relatar os fatos, tal como um jornalista faz ao escrever uma notícia para ser publicada num jornal. Porém, na ficção a liberdade é total e o narrador pode se intrometer na história dos outros, dar palpites, emitir opiniões, revelar seus sentimentos, se dirigir ao leitor, fazer considerações sobre o processo de escrita e muito mais. Eu separei dois trechos de dois autores, como exemplos de voz narrativa: “Imagine a leitora que está em 1813, na Igreja do Carmo, ouvindo uma daquelas boas festas antigas, que eram todo o recreio público e a arte musical. Sabem o que é uma missa cantada; podem imaginar o que seria uma missa cantada daqueles anos remotos.” Conto “Cantiga de esponsais”, de Machado de Assis “Era um verão estranho, sufocante, o verão em que eletrocutaram os Rosenberg, e eu não sabia o que estava fazendo em Nova York. Tenho um problema com execuções. A ideia de ser eletrocutada me deixa doente, e os jornais falavam no assunto sem parar – manchetes feito olhos arregalados me espiando em cada esquina, na entrada de cada estação de metrô, com seu bafo bolorento de amendoim. Eu não tinha nada a ver com aquilo, mas não conseguia parar de pensar em como seria acabar queimada viva até os nervos.” “A Redoma de Vidro”, de Sylvia Plath 42. Existe racismo no Brasil? Explique. 43. Qual foi o seu sonho mais estranho? 44. Imagine que você e seu melhor amigo se perderam numa floresta. Qual é a estratégia para sobreviver? Como a história termina? 45. Escreva uma história que termine com a frase de Machado de Assis: “Não é em terra que se fazem os marinheiros, mas no oceano, encarando a tempestade.” 46. Você acorda de manhã e percebe que se transformou num cachorro. O que acontece? Conte o seu dia. “De certo que eu amava a língua. Apenas, não a amo como a mãe severa, mas como a bela amante e companheira.” João Guimarães Rosa 47. Escreva um diálogo entre um gato e um peixe de aquário. 48. Escreva um diálogo entre o telefone fixo e o celular. 49. Descreva o banheiro da sua casa. A torneira a pia está pingando. 50. Descreva a padaria do seu bairro. Acabou de sair uma fornada de pão. 51. Você ganhou na Mega-Sena acumulada. O que você faz da sua vida? 52. Você está num hotel com fama de mal-assombrado e acorda com barulhos que vem do corredor. Descreva a cena? Como a história termina? 53. Você passa um dia trabalhando num depósito de lixo. Conte como foi a experiência. O que aconteceu de mais interessante? “O fascínio permanente de (Sherlock) Holmes provém também da ambientação e da atmosfera das histórias. Entramos naquele mundo vitoriano de fog e luz de gás, o tilintar das rédeas dos cavalos, o crepitar das rodas nas pedras do calçamento e a sombra de uma mulher encoberta subindo a escada daquele claustrofóbico santuário da Baker Street, 221B.” P.D. James 54. O dinheiro compra a liberdade? Comece o texto com uma tese de abertura, desenvolva alguns argumentos e termine com a conclusão. 55. O que é legal no seu programa de TV favorito? Por quê? 56. Comente a frase: “O segredo do casamento é abrir bem os olhos antes, e fechá-los um pouquinho, depois.” 57. O personagem da sua história faz um pedido para o gênio da lâmpada e o desejo é atendido. Porém, dá tudo errado. TÓPICOS PARA CRIAR UM PERSONAGEM Muitos escritores preenchem uma ficha técnica para a construção do personagem. Veja alguns exemplos do que costuma entrar na ficha. nome cidade onde nasceu onde mora atualmente como é a casa dele idade altura peso estado de saúde aparência física como se veste profissão estado civil família situação financeira coisas que gosta de fazer comidas preferidas características de personalidade o que ele quer mais do que qualquer outra coisa (motivação dentro da história) um segredo do passado Você pode continuar a lista do jeito que quiser. O importante é que o personagem seja consistente e se torne verossímil. Outra técnica é escrever a história de cada personagem antes de começar o livro. São estudos para construção de personagens. 58. Conte uma piada. 59. É o dia mais frio do ano e você sai de casa, a pé, às seis da manhã para ir ao trabalho ou à escola. Descreva a situação. 60. Você acorda e a cidade está completamente deserta. A população desapareceu. O que você faz? 61. Você conhece uma pessoa que tem pavor de peixe (não pode nem ver). Conte o que acontece quando vocês entram, por engano, numa peixaria. 62. Escreva um texto publicitário sobre o seu chocolate preferido. Por que o consumidor deve comprá-lo? 63. O personagem pode ficar invisível durante duas horas. A história termina com uma surpresa. 64. Um homem joga uma bituca de cigarro na calçada, uma moradora de rua a pega e dá uma tragada. Conte a história de um jeito irônico. “Num romance o autor não é tão onipotente como se pensa. Num determinado nível, é a história que conduz o escritor. O autor pode até pensar: ‘Ah, eu quero escrever um romance assim’. Mas, quando começa a escrever é outra coisa.” Fernanda Torres 65. Almoço de Natal. Crie um personagem que parece bom no começo da história, mas termina como vilão. 66. O personagem volta no tempo e passa o dia na casa de uma família no ano de 1900. Descreva esse dia. 67. Escolha um texto do autor que você mais admira e copie um trecho no espaço abaixo. 68. Você olha pela janela e vê uma cena estranha numa das janelas do apartamento do outro lado da rua. Parece um assassinato. Descreva a cena. O que você faz? 69. Você está num museu e sua amiga quebra um valioso vaso chinês da dinastia Ming. Ninguém viu. O que você faz? Descreva a cena 70. O personagem tem 64 anos de idade. Ele volta no tempo e conversa com ele mesmo quando tinha 20 anos de idade. O que ele diz? Ele dá conselhos? Escreva em forma de diálogo. 12 PASSOS PARA ILUMINAR O TEXTO Os manuais de redação recomendam que o texto seja claro, correto, preciso e atraente. A linguagem coloquial facilita a comunicação, afinal o texto é para ser entendido. Frases na ordem direta (sujeito, verbo e complementos) são a melhor escolha. Corte as expressões muito batidas. Usar “o bom velhinho” para falar do Papai Noel ou “soldado do fogo” para o bombeiro são chavões que desmoralizam o texto. Em vez de ficar explicando longamente como é o personagem, mostre-o em ação. Um olhar torto pode dizer mais do que parágrafos inteiros de análise psicológica. A história precisa fazer sentido, com personagens consistentes e uma trama bem amarrada. Se o enredo for fraco ou se o texto estiver chato é provável que o leitor perca o interesse e abandone a leitura. Prepare algo saboroso, faça com que uma frase esteja ligada à outra e espalhe algumas surpresas pelo caminho. Leia em voz alta para saber se o texto cai bem nos ouvidos. Corte tudo o que não for necessário. Corte sem dó. Escreve e reescreva. Você pode imaginar que escreve para um leitor específico. É comum que redatores pensem, ao escrever, algo do tipo: “Hum, isso a minha tia Maria não vai entender.” Leitura é essencial para quem escreve. Leia bastante. O contato com as obras dos melhores escritores vai irrigar a sua mente criativa. 71. Num restaurante por quilo, a comida italiana e a comida japonesa discutem sobre qual delas é a melhor. Escreva o diálogo. Crie um final inesperado. 72. O personagem está num shopping e percebe que está sendo seguido. O que ele faz? 73. O seu filho cometeu um crime. Você é a única testemunha. O que você faz? 74. Crie um personagem que participa de uma banda de rock e se transforma num lobisomem. Como ele é? 75. E se o mundo fosse acabar hoje? Escreva o texto que vai ser lido na televisão anunciando o fim do mundo e o encerramento das transmissões. “A palavra certa na hora certa. Tudo no meu texto é premeditado, até as gratuidades. É um trabalho de construção, escrever é meu ofício.” Marcelo Mirisola 76. “Ativistas políticos se aproveitam de jovens idealistas e os usam sem remorsos.” Você concorda com essa afirmação? Por quê? 77. Você está num barco e acontece um ataque de piratas. Descreva a cena. 78. Você compra um bode num site de leilões pela internet. Os seus pais ou sua esposa (o) não querem o bicho em casa. Descreva a cena em que os faz mudar de ideia. 79. Você faz uma cirurgia plástica e fica completamente diferente. Ninguém o reconhece. O que acontece de inusitado? Conte a cena. 80. Você acredita em previsões sobre o futuro? Explique. 81. A religião é importante na sua vida? Por quê? 82. Escreva um diálogo entre um poste e um cachorro. 83. Escreva um diálogo entre a Lua e o planeta Terra. 2 SAÍDAS PARA O FIM DA HISTÓRIA O autor procura criar um encerramento expressivo, que fique na cabeça do leitor. O último capítulo e a última frase são trabalhados com capricho e, às vezes, se tornam marcantes. Há duas opções principais. O narrador pode concluir a história definitivamente ou deixá-la em aberto. No primeiro caso, a história chega ao fim e o leitor fica sabendo exatamente o que aconteceu. Numa novela de TV, o mocinho e a mocinha se casam e o vilão é castigado. Um exemplo de final definitivo é o conto “Uma águia sem asas”, escrito pelo genial Machado de Assis e publicado no “Jornal das Famílias”, em setembro de 1872. Trata-se da história de uma jovem ambiciosa que escolhe um marido entre três pretendentes. Vítima de uma farsa, ela escolhe o mais despretensioso e sossegado dos três – justamente o contrário do que desejava. O conto termina assim, na voz literária do narrador: “Que mais lhe direi para completar a narrativa? Sarah disse adeus às ambições dos primeiros anos, e voltou-se toda para outra ordem de desejos. Quis Deus que ela os realizasse. Quando morrer não terá página na história; mas o marido poderá escrever-lhe na sepultura: Foi boa esposa e teve muitos filhos.” O narrador pode escolher a segunda opção e, ao terminar a história, deixar algumas pontas soltas, algumas tramas em aberto. Cabe ao leitor imaginar o que poderá acontecer. Veja um exemplo no conto “Miloca”, também de Machado de Assis, publicado em 1874. É a caso de uma jovem orgulhosa que rejeita o amor de seu pretendente. O tempo passa, o mundo dá voltas, e eles se tornam amantes. Só que dessa vez é o rapaz quem abandona a moça. Veja como termina o conto: “Ambos arrastaram a cadeia durante um ano mais, até que Adolpho embarcou para a Europa sem dar notícia de si à infeliz moça. Miloca desapareceu tempos depois. Uns dizem que fora à cata de novas aventuras; outros que se matara. E havia razão para ambas estas versões. Se morreu, a terra lhe seja leve.” Quer outro exemplo? Em “Dom Casmurro”, também de Machado de Assis, está o que especialistas chamam de “o maior enigma da literatura brasileira”: Capitu traiu Bentinho? Ninguém sabe. O autor termina o romance e deixa a questão em aberto. Os seriados de TV são mestres em finais abertos. O último episódio de cada temporada traz o desfecho da história e costuma mostrar os personagens principais de partida para novas aventuras ou de cara com problemas, que só vão ser mostradas na próxima temporada. São ganchos para prender a atenção do telespectador. 84. Duas velhinhas se reúnem para um café com bolo na casa de uma delas. Cada uma tem uma mania muito peculiar. Descreva a cena e invente um final inusitado. 85. A escola de lousa e giz é adequada aos estudantes da era digital? Por quê? 86. O namorado sai e esquece o Facebook aberto. A namorada resolve ler as mensagens que ele anda teclando. O que ela descobre? O que acontece quando ele volta? 87. Conte uma boa história de pescador. Inclua uma sereia, uma garrafa de rum e um relógio de ouro. 88. O jogo de futebol está empatado e você se prepara para bater um pênalti aos 45 minutos do segundo tempo. O que se passa pela sua cabeça? “Quando olho pedra e vejo pedra mesmo, só estou vendo a aparência. Quando a pedra me põe confusa de estranhamento e beleza, eu a estou vendo em sua realidade que nunca é apenas física. A aparência diz pouco. Só a poesia mostra o real.” Adélia Prado 89. Escreva um texto a partir da seguinte frase: “Ele passa o dia no computador. A vida dele se resume a sites, seriados, mídias sociais e games.” 90. Você recebeu a visita de um amigo chinês e o levou para passear. Conte como foi o passeio, com humor. 91. Dissertação: O jornalismo independente é um dos pilares da democracia. 92. Você é levado por um disco-voador. Descreva a situação. O que acontece no final? 93. Descreva a barraca de pastel da feira. Atenção aos sons e aos cheiros. 94. “Querer é poder” ou “Querer não é poder”? 95. Você chega de viagem a um hotel em Nova York e descobre que sua mala foi trocada. Dentro da sua “nova” mala há uma tela original de Pablo Picasso. O que você faz? 96. Escreva uma história que comece com a frase: “Amanhã será outro dia.” 97. Escreva um diálogo para uma peça de teatro. Um conde senil e uma jovem faxineira atrevida discutem sobre um cachimbo. “Toda obra científica deve ser uma espécie de thriller – o relato de uma busca por algum Santo Graal.” Umberto Eco 98. Escolha um trecho de algum romance em inglês e o traduza para o português. 99. Escreva uma história em que os personagens mais curiosos de sua vizinhança brigam por causa de um gato fujão. 100. É um dia de muito calor. Você é um cachorro sem dono, na praia. Descreva os humanos ao seu redor e diga o que você pensa deles. Escreva de uma forma bem-humorada. “Costumo fazer test drive dos meus livros, com pessoas que não têm nenhuma ligação com o meio e com o jornalismo, para ver a aceitação.” Fernando Morais O QUE LER? Recomendar livros é algo que dificilmente funciona porque seria preciso saber a idade, o gosto, o nível de leitura, a disponibilidade de tempo e o momento pessoal de cada leitor. Apesar disso, aqui estão alguns dos meus preferidos. “O Alienista”, os contos e os romances (“Memórias póstumas de Brás Cubas”, “Quincas Borba”, “Dom Casmurro”, “Esaú e Jacó” e “Memorial de Aires”) de Machado de Assis “Triste fim de Policarpo Quaresma” e “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, de Lima Barreto “Primeiras Estórias”, de João Guimarães Rosa “Quase Memória”, de Carlos Heitor Cony “O Melhor das Comédias da Vida Privada”, de Luis Fernando Verissimo “A Redoma de Vidro”, de Sylvia Plath As melhores crônicas de Rubem Braga e Antonio Prata “ Eu também gosto de biografias, novelas de detetives e leio tudo o que a minha mão alcança. BIBLIOGRAFIA Assis, Machado de. 50 contos / Machado de Assis ; seleção, introdução e notas John Gledson. – São Paulo : Companhia das Letras, 2007. Assis, Machado de. Histórias Românticas. Rio de Janeiro – São Paulo – Porto Alegre : W. M. Jackson inc., editores, 1942. Assis, Machado de. Seus trinta melhores contos. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1994. Barbosa, Severino Antônio M. e Emília Amaral. Escrever é desvendar o mundo: a linguagem criadora e o pensamento lógico. Campinas, SP : Papirus, 1987. Barreto, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo : Editora Ática, 1998. Capote, Truman. Música para camaleões : nova escrita ; tradução Sergio Flaksman. São Paulo : Companhia das Letras, 2006. Chandler, Raymond. O longo adeus ; tradução Braulio Tavares. – 1.ed. – Rio de Janeiro : Objetiva, 2014. Coben, Harlan. Não conte a ninguém [tradução de Ivo Korytowski]. São Paulo: Arqueiro, 2009. Cony, Carlos Heitor. Romance sem palavras. São Paulo : Companhia das Letras, 1999. Eco, Umberto. Confissões de um jovem romancista ; tradução Marcelo Pen. São Paulo: Cosac Naify, 2013. García Márquez, Gabriel. Cem anos de solidão ; tradução de Eliane Zagury ; ilustrações de Caribé. – 39.ed. – Rio de Janeiro : Record, 1994. James, P.D. Segredos do romance policial ; tradução José Rubens Siqueira. 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Paulo, 06 de dezembro de 2013 Entrevista com Fernanda Torres Revista Trip 237, 29 de outubro de 2014 Entrevista com Vanessa Barbara (texto de Renata Penzani) Revista TPM, 02 de outubro de 2013 “Uma escolha profissional”, entrevista com o escritor Luiz Ruffato Revista Língua Portuguesa – Ano 9 – número 102 – Editora Segmento, abril de 2014 “A última entrevista de Guimarães Rosa”, no site da Revista Bula Artigo de Carlos Willian Leite sobre entrevista de Guimarães Rosa a Arnaldo Saraiva. O autor de “100 Exercícios de Escrita Criativa”, Mário Falcão, é jornalista e vive cercado de livros. Esta é uma obra protegida pela lei do direito autoral. A reprodução total ou parcial é proibida.