
Bodenlos-Uma 
Aurobiografia 
Filosófica 
VI 
F1.ssiR 
o 
nada 
por 
horizonte, 
e o 
clima 
da 
falta 
de 
fundamento. 
O 
presente 
livro 
atestará 
tal clima. 
O  termo 
"absurdo 
signitica 
também 
"sem 
fundamento" 
no 
sentido 
de 
"sem 
base 
razoável". 
Como 
é 
Todos conhecemos 
tal 
clima 
de 
experiència própria, 
mas 
indiretamente. Por exemplo, 
através 
do surrealismo, 
da 
filosofia 
cxistencial e do teatro 
do 
absurdo. Há épocas 
nas 
sem 
quais 
o 
clima 
predomina 
nas
manifestações 
da cultura. 
Por 
exemplo, 
no 
final 
da 
Antigüidade, 
no 
final 
da Idade Médi, 
e atualmente. 
São 
épocas 
de 
ruptura.
Mas 
há isto: tais 
manifestações 
culturais da falta 
de 
fundamento a 
um 
tempo 
revelam 
c  encobrem a  verdade. 
Quando 
a  falta 
de 
fundamento 
se 
torna 
tema 
público, 
deixa 
de 
ser 
ela 
mesma. 
E 
ela 
a experiência da solidão, e derrete, quando discutida 
publicamente. 
A experiència da falta 
de 
fundamento 
não 
pode ser 
precipitada 
em 
literatura, filosofiae arte sem ser falsificada. 
Pode 
ser 
apenas 
circunscrita 
em 
tais 
formas, 
para 
ser 
parcialmente 
captada. 
Mas 
é possivel atestá-la, de mancira 
direta, autobiograficamente: na  esperança de que tal 
atestado 
sirva de 
espelho 
para 
outros. 
A 
própria 
vida 
pode 
tornar-se 
laboratório 
para 
outros. 
E este 
(e 
náo, assim 
espero, vaidade 
ou 
vontade 
de 
auto-atirmação) o 
motivoo 
sem 
fundamento 
a 
sentença 
que 
afirma 
que 
"duas 
vezes 
dois são 
quatro 
às 
sete horas 
em 
São Paulo". E exemplo de 
um 
pensarabsurdo. 
lProvoca 
a 
scnsação 
de 
estarmos 
os 
dois 
boiando 
sobre 
abismo 
no 
qual 
os 
conceitos 
de 
"verdadeiro" 
e 
"falso 
não 
se 
aplicanm. 
A  sentença 
não 
tem 
fundamento, 
porquc seria 
absurdo 
dizer-se 
que 
é 
verdadeira 
ou 
que 
é 
falsa. 
E 
ambas 
as 
coisas 
e é nenhuma 
delas. 
A 
sensação 
de 
estar-se boiando é o clima da falta de fundanmento.  O 
presente 
livro 
atestará 
tal 
clima. 
Os 
exemplos 
tirados da 
botânica, 
astronomiae 
lógica 
pretendem introduzir o leitor 
no 
clinma 
do presente 
livro. 
Clima 
que 
todos 
conhecem 
de 
experiência própria, embora 
possam 
tentar suprimi-lo. E o clima da religiosidade. 
Nele 
surgiram 
todas 
as 
religióes, 
porque 
são 
métodos 
de 
proporcionar fundamento. 
Mas 
é também clima 
no 
qual 
todas 
as 
religiöes 
periclitam. 
Porque 
nele 
os 
fundamentos 
do 
presente 
livro. 
Todos 
conhecemoso 
clima 
da 
falta 
de 
fundamento
de 
experiência
própria, 
e, 
se 
o  negarmos,  é  que 
conseguimos 
reprimi-lo 
(vitória 
duvidosa). 
Mas 
háos 
que 
se 
encontram 
na 
falta de fundamento, 
por 
assinm 
dizer, 
objetivanmente, 
seja 
porque 
toranm 
arrancados 
da 
realidade 
proporcionados 
pelas 
religióes 
são 
corroídos 
pelo 
ácido 
do 
absurdo. 
Todos 
os 
nossos 
problemas 
são, 
em 
últimaanálise, 
religiosos. 
Se 
nos 
encontramos 
sem 
fundamento, buscamos 
solução 
religiosa 
sem 
poder 
encontrá-la. E 
se 
sentimos 
fundamento 
debaixo 
dos 
pés 
(graças 
a 
uma 
religiäo 
ou 
a 
um 
substituto 
qualquer 
de 
religião, 
ou 
simplesmente 
graças 
à 
força 
encobridora 
do 
cotidiano), 
perdemos 
o 
verdadeiro 
clima 
da 
religiosidade 
(mas, 
posivelmente, 
tal 
formulação 
é, 
ela 
própria, 
resultado 
da 
falta 
de 
fundamento). 
por 
torças  externas,  seja 
porque 
abandonaram 
espontaneamente 
uma 
situação 
aparentemente 
real, 
mas 
por eles diagnosticada 
como 
fantasmagoria. 
Os 
que caíram, 
portanto, 
na falta de 
fundamento 
ou 
a escolheranm. São os